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Passeio ao Domingo: Teixeira de Pascoaes

Aos domingos talvez valha a pena um passeio pela vida dos que, tendo andado pelo Direito, o abandonaram como profissão, tantos sem que ténue vestígio fique pela sua obra ou até pelo que é conhecido ante a sua biografia pública. Um desses casos é “Teixeira de Pascoaes”, nome literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos. Nasceu em Amarante a 2 de novembro de 1877 e morreu em Amarante, localidade de Gatão, 14 de dezembro de 1952. Não o supunha  advogado, mas foi. Sobre ele escrevi, a 14 de Dezembro de 2010,  num espaço que dedico a notas de leitura e está aqui], este apontamento:

«Li esta manhã, em que, enevoado como a rua, fui a grua de mim mesmo para me soerguer e enfrentar as obrigações minhas e os deveres para com os outros, sem tempo para ler ou para pensar salvo no óbvio, que assim soube que hoje era um qualquer aniversário do Teixeira de Pascoaes. Agora confirmei que era o da morte, que aconteceu a 14 de Dezembro de 1952. Como não dá data certa vai haver escasso fogo de artifício necrófilo. Comemorar uma morte é, aliás, tão ridículo como celebrá-la com champanhe, os vivos contentes pelo passamento daquele.
Advogado de profissão, com banca exígua na Rua das Taipas, no Porto em 1906, dele se disse, como se numa síntese que resumisse assim sua vida, «em conclusão, o poeta venceu o advogado, adoecendo, ou tirando forças da fraqueza».
E assim foi. Fui reunindo dele a obra, assomei aos portões da sua casa em Amarante quando por ali procurava para um livro inacabado o Amadeu Sousa-Cardozo. Está comigo como presença e possibilidade.
Cedo se lhe foi vincando no rosto a caveira simbólica que anuncia aos vivos que a Morte é dona já daquele corpo. A alma, essa, brilhava-lhe, como uma luz reflexa, e por isso escreveu que «a vida é uma queda energia brutal, sorriso que ficou da gargalhada, relefexo de um incêndio longínquo» e por isso também no cemitério de Gatão, irmanado com a Natureza que é Mãe, ele jaz, ou o que dele resta, sob o epitáfio: «apagado de tanta luz que deu, frio que tanto calor que derramou».
Falta a memória. Nesta tarde que finda e em que a noite já começou, olho, juntos na estante, os livros que nos deu. Preparo-me para o dia em que ao lê-los sentir que o acaso me levou a isso, anunciando-se, como num sorriso, a ironia da minha hora.»
E, estando em matéria de recolha de excertos, a 9 de Fevereiro de 2006, num outro espaço, este agora que, com presença irregular, dedico à denominada “filosofia portuguesa” e seus cultores [vê-lo aqui], ficou esta outra nótula:
«Em Dezembro de 2002 o Museu de Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, organizou uma exposição dedicada a outro notável filho da terra, Teixeira de Pascoaes. Advogado também – dos que se exilam nas letras – disse sobre ele a irmã, Maria da Glória, num livro, editado em 1971, que eu ainda hei-de encontrar: «foi sempre um homem, nunca foi criança». Pegando exactamente na frase, António Cândido Franco, acrescenta, no catálogo evocativo dos cinquenta anos da sua morte: «o que é também outro modo de dizer que ele foi sempre um menino, nunca um adulto». Parece absurda a conclusão; absurda porém a realidade que a impõe.»
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