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Francisco Salgado Zenha

Completam-se hoje cem anos sobre a data do seu nascimento. Foi o meu patrono efectivo na advocacia, de quem recebi lições inesquecíveis sobre o modo de advogar. Veio dele a noção «o cliente tem um problema, o advogado tem um caso», que ainda hoje tenho presente cada vez que tenho de exercer a minha profissão. Com ele aprendi que a concisão suplanta a verborreia.  As suas Notas sobre a Instrução Criminal, pequeno opúsculo crítico sobre a fase de averiguação pré-acusatória, escrito em toque a rebate sobre os abusos da Ditadura em matéria de processo penal, balizaram-me o percurso mental. O livro foi apreendido na tipografia, circulava de forma clandestina.

De entre tantas facetas da sua personalidade, a coragem cívica, a elegância no estilo, a coerência das convicções, a “ironia e sumo de limão” da sua retórica, ficou-me, como retrato maior da sua pessoa, a grandeza moral.

Noites, madrugadas vividas no seu escritório na Avenida 5 de Outubro, lançaram-me à vida, aprendendo a correr sem a bengala do paternalismo, antes de, terminado o estágio, seguir o meu próprio caminho na comarca de Sintra.

Político, primeiro líder eleito da Associação Académica de Coimbra, várias vezes preso em Caxias, foi o primeiro Ministro da Justiça do post-25 de Abril. Servi-o então, eu na modesta função de Secretário, primeiro, seu adjunto depois. Mais tarde convidar-me-ia para integrar o cargo de Secretário do Conselho de Ministros, onde vivi momento únicos daquele conturbado tempo. Foram intervalos no meu ser profissional, enriquecedores, sem o desencanto que o futuro me traria.

Razões da política fá-lo-iam caminhar sozinho numa campanha eleitoral como candidato independente à Presidência da República. A vida separou-nos aí. Tanto o lamento hoje. Estava ali, suponho, a minha natureza, as raízes do meu ser.

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