«Eis um livro a evidenciar que o Direito não estiola necessariamente a alma de quem o viva humanamente, missão dolorosa porque esforçada e sacrifical, mas encargo, porém, de humanos para humanos, nunca demasiadamente humanos», escrevi no texto de introdução do livro O Mar dos Meus Olhos, publicação recentíssima de Adelina Barradas de Oliveira, desembargadora da Relação de Lisboa, repeti-o na sessão de apresentação da obra.
Nesse texto, depois de convocar juristas de renome que à poesia confiaram também o seu sentir, como Orlando de Carvalho, professor, Paulo Ferreira da Cunha, professor de Direito, autor de uma vastíssima obra filosófica de diversificada matriz, poeta ele também, e “Francisco d’Eulália”, nome literário do professor José Faria Costa, perguntei-me como não citar, entre os contemporâneos a “Raiz Afectuosa” de António Osório, o poeta que conhecemos com tendo sido o advogado António Osório de Castro, a escrita vária de Rui Barbot Costa, que lemos sendo como Mário Cláudio, «jurista a contragosto» lhe chamou Carlos Ascenso André, a polimórfica obra Vasco Graça Moura, a extensíssima produção poética de António Arnaut, tantos, tantos, os que Ana Paula Arnaut recolheu na colectânea de ensaios, editada em Julho de 2020, pela Minerva, sob o título “As Palavras Justas”.
Lembrei também, não citando tantos outros, o “Formado em Direito e Solidão” título de um poema de Pedro Tamen, levado ao livro Escrito de Memória que publicou em 1973.
E, sem pudor, permito-me pensar e dizê-lo que ler poesia, escrevê-la, é tornarmo-nos mais humanos, nós aqueles cuja profissão nunca será demasiado humana.